Primeiro dia do Festival I Love Jazz levanta o público na Praça do Papa

A temperatura na casa dos 25º e o céu azul sem sinal de nuvens compunham com a amplidão da Praça do Papa o clima auspicioso de retomada do festival I Love Jazz, neste sábado (25/6), após dois anos de interrupção, por causa da pandemia.

Com um público que, por volta das 16h30, já tomava praticamente todas as cadeiras dispostas diante do palco e se espraiava pelo relevo da praça, a banda paulistana Fizz Jazz abriu os trabalhos no palco.

O baixista do grupo, Beto Grangeia, comentou, num dado momento, que estava vendo na plateia rostos conhecidos de São Paulo. “Obrigado a esse pessoal que, mesmo ouvindo as nossas músicas, as mesmas, toda semana, nos clubes em que a gente toca por lá, atravessou 800 quilômetros para vir nos acompanhar aqui no I Love Jazz”, disse.

“Considero o I Love Jazz o melhor festival do Brasil. Esta é a terceira vez que a Fizz Jazz participa, mas eu já acompanhava desde antes, como público. Fazia questão de vir de São Paulo para cá assistir. Tem um equilíbrio muito interessante de linguagens, com grupos e artistas representantes de diversas correntes e diferentes épocas”

O grupo, que, entre os que compõem a programação, é um dos mais alinhados à temática proposta para este ano, “Os anos 20 estão de volta”, apresentou temas instrumentais e cantados – o que foge um pouco à regra do evento –, entre eles alguns que remontavam aos primeiros anos do século passado.

Shows

Pouco antes do fim do show, com o sol já se pondo por trás da serra, o guitarrista Cléber Guimarães, que também tocou banjo, lembrou da tradição dos cortejos fúnebres de New Orleans, em que uma banda de jazz acompanha o caixão rumo ao cemitério tocando temas tristes e retorna, após o enterro, executando músicas alegres e dançantes.

A banda exemplificou essa tradição com “Just a closer walk with thee”, já gravada por Louis Armstrong e Elvis Presley, entre muitos outros célebres artistas.

A Fizz Jazz fechou a apresentação com “Hold that tiger”, tema popularizado pelo grupo The Mills Brothers. Cléber Guimarães não escondia sua satisfação ao final do show.

“Considero o I Love Jazz o melhor festival do Brasil. Esta é a terceira vez que a Fizz Jazz participa, mas eu já acompanhava desde antes, como público. Fazia questão de vir de São Paulo para cá assistir. Tem um equilíbrio muito interessante de linguagens, com grupos e artistas representantes de diversas correntes e diferentes épocas.”

O músico considerou maravilhosa a experiência de voltar a tocar em um grande festival após o período de isolamento provocado pela pandemia.

Jazz e choro

Na sequência, quem subiu ao palco foi Juarez Moreira, que começou sua apresentação solo, executando ao violão um tema francês dos anos 1920 e chorinhos de Ernesto Nazareth e Pixinguinha. Depois o baixista Kiko Mitre e o baterista André “Limão” Queiróz tomaram seus lugares no palco, compondo o trio que conduziu a apresentação até o final.

Juarez está com dois álbuns prontos para serem lançados – “Dedicatória”, de músicas autorais e inéditas, executadas por um septeto e com as participações especiais de Toninho Horta e Maurício Tizumba, e “Andorinha”, que é seu segundo trabalho dedicado à obra de Tom Jobim, gravado com formação de trio.

O final de sua apresentação, que também dialogou com o tema desta edição, foi muito aplaudido pelo público, que insistia por “mais uma”.

Incentivo à cultura

Diretor-presidente dos Diários Associados, grupo ao qual pertencem o jornal Estado de Minas e o portal UAI – apoiadores do I Love Jazz –, Álvaro Teixeira da Costa acompanhava com atenção os shows.

“É uma alegria muito grande, depois de três anos passados em branco, poder retomar o festival. Sempre foi um evento muito importante, muito expressivo, que repercute muito na sociedade. A gente tem uma média de 10 mil pessoas por noite, o que é espetacular”, disse, exaltando a importância dos patrocínios para a continuidade de iniciativas do tipo.

“Depois desse período difícil, o I Love Jazz voltou graças ao patrocínio de empresas importantes, no caso, a Vale (por meio do Instituto Cultural Vale) e a CBMM. É preciso que as empresas incentivem a cultura, patrocinem e apoiem iniciativas desse tipo, tão importantes para a sociedade”, ressaltou.

Ele destacou, ainda, a qualidade da escalação musical desta 12ª edição do I Love Jazz. “A programação é sempre maravilhosa, quem organiza sabe o que faz. Eles se valem de uma sensibilidade muito apurada para que todos tenham duas noites com muita música boa”, disse.

Mudança na programação

O festival seguiu com uma alteração na programação inicialmente divulgada. Em vez de Dave Mackenzie Quintet, que seria a terceira atração deste primeiro dia da edição 2022 do I Love Jazz, quem subiu ao palco após Juarez Moreira foi o pianista norte-americano Ricky Riccardi.

Acompanhado pelo baixista Gregory Zabel, integrante da formação de Heather Thorn and Vivacity, e Bo Hilbert, baterista da Happy Feet Jazz Band, ele literalmente se esbaldou.

O trio, que nunca havia tocado junto, demonstrou uma sintonia fina, entregando ao público presente uma apresentação vibrante. Transbordante de entusiasmo, Riccardi cativou a plateia com uma vigorosa performance ao piano. O músico estava tão claramente feliz que parecia uma criança, levantando-se várias vezes aos pulos para se dirigir ao público. Ao final da apresentação, chegou a se deitar no palco.

A plateia, entusiasmada, não o queria deixar ir embora e ele acabou fazendo dois números extras, além do planejado. Louis Armstrong, sua principal referência (ele é autor de dois livros sobre a vida e obra do lendário músico e dirige o museu que leva seu nome), mereceu especial atenção no repertório.

Segundo dia de apresentações do festival I Love Jazz

Confira a programação deste domingo (26/6)

15h – Aula de Lindy Hop com os BeHoppers
16h – Jazz Band Ball
17h30 – Christiano Caldas
19h – Dave Mackenzie Quintet
20h30 – Heather Thorn and Vivacity
*Evento gratuito, na Praça do Papa